20 de fevereiro de 2009

Temperamentos e Afinidades



Recebi esse texto ontem de um amigo e achei bem interessante, falando sobre opostos e semelhantes... O que é melhor? Acho que o assunto dá pano para manga, porém algumas coisas são indispensáveis e na minha opinião pessoal, concordo com as colocações da autora.

Temperamentos e Afinidades


Martha Medeiros

O que é melhor para o relacionamento de um casal: que eles sejam iguais ou diferentes? Alguns apostam nos casais siameses: os dois corintianos, os dois petistas, os dois fumantes. Já outros preferem o antagonismo: ele Corinthians, ela Palmeiras; ele PT, ela PMDB; ele fumante, ela presidente da Associação de Combate ao Câncer de Pulmão.


Cada casal tem sua fórmula para dar certo, mas um pouco de equilíbrio ajuda a manter a estabilidade. O melhor parceiro é aquele que é bem diferente de nós e ao mesmo tempo muito parecido. Como? Diferente no temperamento, mas com mil afinidades.


Dois calmos vão pegar no sono muito rápido. Dois gulosos vão passar muito tempo no supermercado. Dois sedentários vão emburrecer na frente da tevê. Dois avarentos nunca terão um champanhe dentro da geladeira. Dois falantes jamais vão escutar um ao outro.


Temperamentos iguais se neutralizam. Temperamentos opostos é que provocam faísca. Ele é super responsável, paga as contas em dia e jamais ficou sem combustível. Ela, ao contrário, é zen. Sua música preferida é um mantra. Não sabe que dia é hoje, mas tem certeza que é abril. Brigas à vista? Que nada. Ela o acalma, ele a acelera, e os dois inventam o próprio ritmo. O que importa é que avançam na mesma direção.


Quando o projeto de vida é antagônico, aí é que a coisa complica. Ele adora o campo, odeia produtos industrializados e não perde o Globo Rural. Ela almoça e janta hamburger, tem horror a qualquer ser vivo com mais de duas patas e raspou suas economias para ver o show dos Rolling Stones em São Paulo, sua cidade modelo.


E ele odeia a instituição chamada família. Ela, ao contrário, não abre mão das macarronadas dominicais na casa da mãe. Ele não sobe num avião nem sob decreto, ela sonha em dar a volta ao mundo. Ele quer ter quatro filhos, ela ligou as trompas quando fez 18 anos. Ele é ativista político, faz doações para o partido e participa de sindicatos.


Ela vota em quem estiver liderando nas pesquisas. Ele não admite televisão em casa, ela não admite menos de três: uma na sala, outra no quarto e uma de dez polegadas na cozinha. Pode dar certo? Pode, mas alguém vai ter que abrir mão dos seus sonhos.


T emperamentos diferentes provocam discussões contornáveis. Já a falta de afinidades pode reduzir um dos dois a mero coadjuvante da vida do outro. Alguém vai ter que ceder muito, e se não tiver talento para a submissão, vai sofrer.


L ogo, não importa se ele chega sempre atrasado e você é a rainha da pontualidade, desde que ambos tenham a mesma visão de mundo e os mesmos valores. Esse é o prato principal de todo relacionamento. O resto é tempero.


Aproveitando o clima do tema destaco também o texto a seguir, de Gibran Khalil, pensador árabe do século 20, sobre a fórula do amor eterno.


"Amai-vos um ao outro, mas não façais do amor um grilhão.

Que haja, antes, um mar ondulante entre as praias de vossas almas.

Enchei a taça um do outro, mas não bebais da mesma taça. Dai do vosso pão um ao outro, mas não comais do mesmo pedaço.

Cantai e dançai juntos, e sede alegres, mas deixai cada um de vós estar sozinho. As cordas da lira são separadas e, no entanto, vibram na mesma harmonia.

Dai vosso coração, mas não o confieis à guarda um do outro.

Pois somente a mão da vida pode conter vosso coração.

E vivei juntos, mas não vos aconchegueis demasiadamente.

Pois as colunas do templo erguem-se separadamente.E o carvalho e o cipreste não crescem à sombra um do outro".