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Da esquerda para direita Eu (7) Jota (3) Meu pai (34) Pri (5) |
Quando eu
era pequena e sonhava com o futuro, o meu maior sonho era poder ficar mais tempo
com meu pai. Ele
tinha um trabalho
incomum para a compreensão de
uma criança pequena, era aviador e por sua rotina de trabalho tinha que viajar por
vários dias e minha saudade, sempre era grande.
Diferente de
tudo que
eu podia observar
ao meu redor
do alto dos meus
seis anos de idade,
meu pai não saia
de casa as sete
da manhã para retornar as sete da
noite. E isso me angustiava, Por conta
de sua profissão ele precisava demorar muito mais
pra voltar pra casa. Seu retorno era depois de dois, três
ou até quatro dias , e para mim em minha “pequenice” era “muito grande” a ausência,
e assim comecei a sonhar: sonhar com o
dia em que ele parasse de trabalhar e eu
pudesse passar mais tempo com
ele. Seria o dia de sua aposentadoria.
Lembro -me que nessa época, ao
deitar na cama todas
as noites eu me pegava
fazendo cálculos complexos
para aquela minha
pouca idade: contava
nos dedinhos das
mãos quantos anos faltariam para meu
pai se aposentar. Na minha
cabecinha de criança, assim que
ele estivesse liberto
de sua obrigação
diária de trabalhar e não existissem mais
as viagens o meu sonho
estaria realizado: mais tempo com
ele!
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Desenho feito por mim com 6 anos referente as reservas |
Algumas vezes fazia parte da rotina dele fazer um plantão na empresa, que era chamado de "reserva" , ele saia de casa ia para o trabalho e á ficava algumas horas , para saber se iria ou não voar. E advinha claro , qual era minha expectativa? Que ele não viajasse, ficava torcendo, como alguém que torce hoje pra ganhar na Mega Sena.
Eu me lembro claramente dele vestindo o uniforme (o herói com a roupa) e eu ficava contemplando aquela beleza e imponência toda. Ia até o portão dizer tchau e meus pequenos olhos o acompanhavam até que ele virasse a esquina. E então eu pensava, que pena ele se foi!
Eu me lembro claramente dele vestindo o uniforme (o herói com a roupa) e eu ficava contemplando aquela beleza e imponência toda. Ia até o portão dizer tchau e meus pequenos olhos o acompanhavam até que ele virasse a esquina. E então eu pensava, que pena ele se foi!
Nessa época eu com
6 anos de idade , calculava que meu pai
estaria aposentado quando eu tivesse
15 anos.
Ótimo , pensava eu em
minha ingênua cabecinha: para mim estava
tudo resolvido afinal, nem
faltava tanto tempo assim. Seriam somente mais 8 anos e pronto. E
assim eu seguia em
minha expectativa irreal
sobre o tempo. Sem
dimensão de longe,
ou de breve. Afinal a partir de
meus 15
anos eu teria com
ele, o meu
tempão exclusivo, que sempre
sonhei. Chegaria um dia , o grande dia, o dia
em que o sonho seria realidade,
o almejado tempo que eu queria a mais
com ele, finalmente se realizaria
e assim eu me sentiria
completa e feliz .
O tempo
passou, a criança cresceu, meu
pai se aposentou, os meus 15
anos chegaram, mas e o
tempo? E meu tempo com
ele que tanto
esperei?
Ah o tempo... o tempo
não vi
passar, estava ocupada sendo
adolescente, pensando no futuro,
escolhendo minha profissão,
brincando com os amigos,
ansiosa com o primeiro
beijo, sofrendo com o
primeiro amor, buscando o meu
primeiro emprego, complexada com o
tamanho do meu
nariz, ou com minha magreza muito
peculiar na época. Eram tantas
supostas preocupações que
nem vi o
tempo passar. Mas afinal eu
não tinha com o que
me preocupar ,
o meu pai estava lá e haja o que houvesse
ele estaria lá.
O tempo passou
mais um pouco
e chegou minha
faculdade , os estudos, as festas, os amigos , a
espera do grande amor, os anseios. Depois a faculdade terminou e após
os estudos resolvi tentar ganhar
meu espaço no mundo,
no meu mundo.
Saí de casa numa
busca sem fim
pela realização profissional,
mas sempre soube que eu podia voltar, se tudo desse
errado, meu pai estaria lá.
Mas e o tempo? O tempo a mais que eu queria ter com
meu pai? E o tempo que eu tanto questionava e ansiava ? E o tempo
que passou e nem vi? Onde eu
estava? Parece que eu estava o tempo
todo ocupada e não conseguia sentir que aqueles anos que eu queria tanto
a mais
exclusivamente com o meu
pai nem tinham sido vividos. Mas
ele estava lá.
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Da esquerda para direita minha mãe , eu, pai , Lara Jota e Pri |
Os pais
são nossos heróis e heróis por pré suposto devem, ou
pelo menos deveriam
ser imortais, mas diferente das
telas de cinema, na vida real a qualquer momento
podemos perdê-los e a fragilidade da vida com
o passar dos anos começou a me
assustar.
De repente,
hoje com 43 anos, caio
em mim que aquela minha criança interna, ainda quer
aquele tempo a mais
com o pai, ainda quer
mais tempo com
ele , mas agora não
podemos mais esperar.
Agora
madura descubro que só temos
o hoje, com 40
anos nada é para
depois, só existe
o agora e aí
descubro que aquele tempo a
mais com ele,
tenho que viver agora. Há
poucos dias meu
pai com então
71 anos, passou
por uma cirurgia cardíaca, extremamente
arriscada por sua
complexidade, (troca da válvula
Aórtica) e por sua
idade correu alto risco de
vida. Foram dias difíceis,
quem me conhece sabe o quanto isso me abalou e me tirou do eixo. Internamente eu questionava o tempo todo: Será
que meu tempo
com ele vai acabar? Não , não
pode acabar ainda não
passei ao lado dele todo
o tempo que
eu gostaria.
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Meu filho Davi 4 anos com o vovô |
O universo meu
ouviu e me deu mais
um tempo pra ser vivido
juntinho dele e hoje em especial, ele teve alta do hospital Incor, em São Paulo e
graças a Deus, segundo o
médico, tendo uma recuperação impressionante e “melhor que a encomenda”. Agora o máximo
que eu puder e o
máximo que o
universo me der aproveitarei com
ele cada novo “ hoje
deste novo tempo”!
E ainda
assim eu sei que sempre vou querer
mais. Todos nós queremos,
todas as nossas crianças internas desejam do
fundo de seus
corações que seus pais
sejam fisicamente eternos, afinal
super heróis são imortais.
Mas o que eu
queria dizer com
isso tudo? Queria dizer que só
temos o hoje, por
isso não viva você somente em seus
planos e sonhos ,
não espere o
tempo ideal chegar para
usufruir daquilo como qual você sonha,
faça seu tempo,
viva seu hoje! Aproveite o seu
agora, o agora existe uma
vez só e ele
não volta. Corra e realize aquelas
pequenas vontades com
quem você ama: uma
pescaria , um pique nique,
muitos beijos, abraços, risadas,
comidas, cheiros, sabores, pois é
isso que
ficará em sua memória.
E quando realmente não houver
mais tempo será a magia
desses momentos que sempre
irão permanecer e aquecer seu coração.
O tempo
passa rápido demais e não podemos
viver esperando por algo. Temos
que esperar, “apenas no
breve intervalo do enquanto estamos
vivendo!”.