7 de junho de 2009

Jornalismo x sensacionalismo

Todos que visitam meu Blog de cara descobrem minha profissão, já deixei explícito inúmeras vezes que sou jornalista. Mas confesso que muitas vezes me sinto triste com a maneira que essa profissão é exercida no mundo afora.


Logo que começamos a faculdade uma das coisas primordiais que aprendemos é que o jornalismo é um aliado do sensacionalismo: Sensacional, espetacular, aquilo que choca!
Infelizmente desde muito cedo os estudantes de jornalismo logo percebem que aquilo que “choca” o público é o ruim.


Não se sabe ao certo o porque mas notícias sobre tragédias vendem mais do que notícias sobre coisas boas, o “ruim” prevalece nas páginas dos jornais e na televisão.
Ao mudar um canal ou ao virar uma página topamos quer queira, quer não com tragédias sem fim e com a perpetuação delas por dias, semanas e meses a fio. Sem dó nem piedade dos envolvidos a mídia faz seu papel: coloca a venda o sensacional, vidas são expostas, dores não são respeitadas e aqueles que não concordam com isso são obrigados a engolir ou a simplesmente a se tornar alienado por opção, ainda que temporariamente apenas para poder parar de respirar tragédias. Às vezes faço isso por opção me desligo alguns dias (ou pelo menos tento) para me desconectar do trágico.


Em fases revoltas cheguei a fazer isso por meses, mas como não posso virar um eremita, logo forçosamente sou obrigada a voltar para o mundo real.



Morte de famosos, casos de polícia, tragédias em geral e principalmente um grande destaque dentre elas aos acidentes de avião como o mais recente do vôo AF 447 são mastigados nos noticiários constantemente. Se a mídia esmiúça tanto, dá tantos detalhes, por vezes desnecessários principalmente para aqueles que estão sofrendo com a dor da perda. É por que alguém, na verdade um grande número de pessoas, vê, lê e assisti avidamente esse tipo de notícia se assim não o fosse não seria essa a receita do “vender mais no mundo da notícia”.


Perguntas inoportunas, detalhes exaustivos de tragédias avassaladoras se tornaram tão comum que ninguém mais se choca e por isso o avanço na perda dos limites em noticiários e jornais aumenta cada vez mais. José Nello Marques no livro - Perguntar Ofende - Perguntas cretinas que os jornalistas não devem fazer mas fazem! Trás algumas pérolas, situações em que um repórter cumprindo sua “função” perde completamente a noção de humanidade ou podemos dizer do perigo? Talvez de inteligência mesmo...


Marques cita o caso de um avião que caiu em Paris e tornou famoso seu comandante por ter sobrevivido, após semanas internado se recuperando física e emocionalmente ao sair do hospital foi recebido por um repórter com a seguinte indagação: “ O senhor esperava por essa tragédia comandante?”
Bem - não tenho palavras - para definir tamanha sensibilidade e inteligência ou aqui podemos chamar de despreparo?


Não sei, o fato é que o “sensacionalismo” tem dessas!
E mesmo sendo uma profissional do ramo, discordo de muita coisa e principalmente dessa mastigação que se faz de um tema trágico até seu esgotamento total. E temos que engolir a seco ou como eu nos alienarmos temporariamente para não ouvir tanta besteira e não compactuar com a intensificação da tragédia e da dor dos seus envolvidos.


Quisera eu que o conceito de “sensacional” pudesse ser outro, e que tragédias não fossem vistas como algo tão sensacional assim!