28 de abril de 2009

O muro Mágico de Cabral




O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral teve a idéia de "murar favelas cariocas" para conter a ocupação desordenada e a devastação ambiental. Será que o Muro é Mágico?



A palavra muro vem definida no dicionário como parede forte que veda ou protege um recinto ou separa um lugar de outro. Talvez tenha sido ai que o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, tenha buscado a ideologia para “murar” as favelas da cidade carioca. Estima-se com base em dados fornecidos pela Secretária de Obras Públicas do Estado, que até o final do ano de 2009 serão construídos aproximadamente 14 quilômetros de muros ao redor das favelas, com o intuito de “conter” o avanço de 19 comunidades, num mega-investimento de R$40 milhões de reais.



Cabral, afirma em alto e bom tom - e com orgulho - que o objetivo da obra “é conter a ocupação desordenada dos morros e a devastação ambiental", designando a construção do muro, como "um instrumento de ordem e civilidade”.

Pois bem, só mesmo chamando de mágico um muro que possa ser tão eficaz, ou nos intitularmos inocentes e simplistas, para acreditarmos - que apenas um muro - contornando todas as favelas da cidade seja capaz de tal feito.



Se meu palpite inicial estiver correto e a inspiração do Governador, para esse suposto muro mágico, (e caro) que será capaz de conter a degradação ambiental e o crescimento desordenado tiver sido buscada no dicionário, deveria o autor ter ido um pouco além – talvez até a letra S – e se atentado ao significado da palavra ‘segregação’:

“Ato ou efeito de segregar - segregação social; Forma de dissociação que se realiza quando unidades similares, obedecendo ao mesmo impulso, se concentram, distanciando-se, ao mesmo tempo, de outras unidades consideradas diferentes ou divergentes. Essa separação ou distância social e física é oriunda de fatores biológicos e sociais: raça, riqueza, educação, religião, profissão, nacionalidade”.



Questionado pela imprensa sobre as possíveis críticas ao seu projeto, Cabral afirma convicto “O muro só vai evitar que a favela cresça nas laterais e para cima. Falar mal do muro é demagogia barata”.

Por essa razão com certeza minha indignação e espanto com a falta de fundamento para um projeto de tamanho valor, não passa de demagogia?


Caso sim, ao menos tenho fundamentos, pois além do caráter de segregação social dessa obra, em termos de gastos esse dinheiro poderia ser usado para coisas muito mais úteis e prioritárias nas favelas. Deveria ser utilizado para diminuir a evidente ausência do Estado dentro dessas comunidades , com ações concretas de combate ao crime organizado e medidas efetivas de desenvolvimento social, tudo isso na minha opinião não pode ser substituído por um muro.


Recentemente movido pela mesma indignação, o conceituado escritor português José Saramago, escreveu um post em seu Blog: “Cá para baixo, na Cidade Maravilhosa, a do samba e do carnaval, a situação não está melhor. A idéia, agora, é rodear as favelas com um muro de cimento armado de três metros de altura. Tivemos o muro de Berlim, temos os muros da Palestina, agora os do Rio. Entretanto, o crime organizado campeia por toda a parte, as cumplicidades verticais e horizontais penetram nos aparelhos de Estado e na sociedade em geral. A corrupção parece imbatível. Que fazer?”.


Em entrevista à revista Veja, questionado sobre a opinião do escritor, Cabral se defende e minimiza; “Está cheio de palpiteiro. O Saramago é um grande escritor, imortalizado por sua obra. Como é bem informado, logo verá que o projeto é bom”.



É ... como afirma o mestre Saramago e faço dele as minhas palavras, realmente "cá pra baixo a situação não está melhor"...

Mas ainda bem que nem tudo está perdido por completo, pois a Defensoria Pública informou que é possível tomar medidas para impedir a construção dos muros. Além disso, um movimento de consciência ativa, já foi dado início por mais de 100 representantes de Associações de Moradores, reunidos na Federação das Associações dos Moradores de Favelas. Eles se manifestaram contra o projeto, criando uma comissão que pretende um encontro com Cabral e visa a apresentação de propostas alternativas ao muro. Portanto, significa positivamente que assim como eu, muita gente não engoliu a idéia do Muro Mágico de Cabral.